domingo, 9 de março de 2014

Métodos de ensino para alunos com surdez

Oralismo



Para Goldfield (1997) o Oralismo ou filosofia oralista visa a
integração da criança com surdez na comunidade de ouvintes, dando-lhe
condições de desenvolver a língua oral (no caso do Brasil, o português). Para
alguns defensores desta filosofia, a linguagem restringe-se à língua oral sendo por
isso mesmo esta, a única forma de comunicação dos surdos. Acreditam assim que
para a criança surda se comunicar é necessário que ela saiba oralizar.
Segundo Goldfield, o Oralismo concebe a surdez como uma deficiência que deve
ser minimizada por meio da estimulação auditiva que possibilitaria a aprendizagem
da língua portuguesa e levaria a criança surda a integrar-se na comunidade
ouvinte, desenvolvendo sua personalidade como a de alguém que ouve. Isto
significa que o objetivo do Oralismo é fazer a reabilitação da criança surda em
direção à normalidade.
A educação oral requer um esforço total por parte da criança, da família e da
escola. De acordo com os seus defensores, para se obter um bom resultado, é
necessário:
- Envolvimento e dedicação das pessoas que convivem com a criança no
trabalho de reabilitação todas as horas do dia e todos os dias do ano;
- Início da reabilitação o mais precocemente possível, ou seja, deve
começar quando a criança nasce ou quando se descobre a deficiência;
- Não oferecer qualquer meio de comunicação que não seja a modalidade
oral. O uso da língua de sinais tornará impossível o desenvolvimento de hábitos
orais corretos;
 - A educação oral começa no lar e, portanto, requer a participação ativa da
família, especialmente da mãe;
- A educação oral requer participação de profissionais especializados como
fonoaudiólogo e pedagogo especializado para atender sistematicamente o aluno e
sua família;
- A educação oral requer equipamentos especializados como o aparelho de
amplificação sonora individual.
Para alcançar seus objetivos, a filosofia oralista utiliza diversas metodologias de oralização : método ocupédico, método Perdoncini, método verbotonal, entre outros. Essas metodologias se baseiam em pressupostos teóricos diferentes e possuem em certos aspectos, práticas diferentes. O que as tornam comum é o fato de defenderem a língua como a única forma desejável de comunicação da pessoas surda, rejeitando qualquer forma de gestualização , especialmente a Língua de Sinais.
Em resumo Oralismo consiste em fazer com que a criança receba a linguagem oral, através da leitura orofacial e amplificação sonora, enquanto se expressa através da fala. Gestos, Língua de Sinais e alfabeto digital são expressamente proibido.



Comunicação Total



Define-se como uma filosofia que requer a incorporação de modelos
auditivos, manuais e orais para assegurar a comunicação eficaz entre as pessoas
com surdez. Tem como principal preocupação os processos comunicativos entre
surdos e surdos, e entre surdos e ouvintes.
Esta filosofia se preocupa também com a aprendizagem da língua oral pela
criança surda, mas acredita que os aspectos cognitivos, emocionais e sociais não
devem ser deixados de lado só por causa da aprendizagem da língua oral.
Defende assim a utilização de qualquer recurso espaço - visual como facilitador da
comunicação.
Segundo Ciccone (1990), os profissionais que defendem a Comunicação
Total concebem o surdo de forma diferente dos oralistas: ele não é visto só como
alguém que tem uma patologia que precisa ser eliminada, mas sim como uma
pessoa, e a surdez como uma marca que repercute nas relações sociais e no
desenvolvimento afetivo e cognitivo dessa pessoa.
Diferentemente do Oralismo, a Comunicação Total acredita que o
aprendizado da língua oral não assegura o pleno desenvolvimento da criança
surda.
Ciccone (1990) demonstrou que muitas crianças que foram expostas
sistematicamente à modalidade oral de uma língua, antes dos três anos de idade,
conseguiram aprender está língua mas, no desenvolvimento cognitivo, social e
emocional, não foram bem sucedidas.
Uma diferença marcante entre a Comunicação Total e as outras abordagens
educacionais constitui-se no fato de que a Comunicação Total defende a utilização
de qualquer recurso linguístico, seja a língua de sinais, a linguagem oral ou
códigos manuais, para propiciar a comunicação com as pessoas com surdez.
A Comunicação Total valoriza a comunicação e a interação e não apenas a
língua. Seu objetivo maior não se restringe ao aprendizado de uma língua.
Outro aspecto a ser salientado é que esta filosofia respeita a família da
criança com surdez. Acredita que cabe à família o papel de compartilhar valores e
significados, formando, junto com a criança, através da possibilidade da
comunicação, sua subjetividade.
Os defensores da filosofia da Comunicação Total recomendam então o uso
simultâneo de diferentes códigos como: a Língua de Sinais, a datilologia, o
português sinalizado, etc. Todos esses códigos manuais são usados obedecendo
à estrutura gramatical da língua oral, não se respeitando a estrutura própria da
Língua de Sinais.
Nesse sentido a Comunicação Total acredita que esse bimodalismo pode
atenuar o bloqueio de comunicação existente entre a criança com surdez e os
ouvintes. Tenta evitar que as crianças sofram as consequências do isolamento.
Tal abordagem compreende, então, que a criança seja exposta:
- ao alfabeto digital;
- a língua de sinais;
- a amplificação sonora;
- ao português sinalizado.

A abordagem da Comunicação Total chegou ao Brasil na década de setenta
e vem sendo adotada em escolas mais recentemente. Os Estados Unidos é o
maior representante desta abordagem. Sofreu muitas críticas, uma vez que não
trouxe os benefícios esperados no âmbito do desempenho acadêmico das
crianças com surdez no que se refere ao seu processo de escolarização (leitura e
escrita).


Bilinguismo



É uma filosofia que vem ganhando força na última década principalmente no
âmbito nacional. Na Suécia já existem trabalhos nesta perspectiva há um bom
tempo. No Uruguai e Venezuela verifica-se a presença desta abordagem nas
propostas de ensino das instituições públicas. Na Inglaterra existem estudos
iniciais e, na França, aparece nas propostas das escolas que trabalham
especificamente na educação dos alunos surdos.
Configura-se, no caso do Brasil, como uma proposta recente defendida por
linguistas voltados para o estudo da Língua de Sinais. Ainda não foi feita uma
avaliação crítica pois, de maneira geral, não foi efetivamente implantada.
Parte do princípio que o surdo deve adquirir como sua primeira língua, a
língua de sinais com a comunidade surda. Isto facilitaria o desenvolvimento de
conceitos e sua relação com o mundo. Aponta o uso autônomo e não simultâneo
da Língua de Sinais que deve ser oferecida à criança surda o mais precocemente
possível. A língua portuguesa é ensinada como segunda língua, na modalidade
escrita e, quando possível, na modalidade oral. Contrapõe-se às propostas da
Comunicação Total uma vez que não privilegia a estrutura da língua oral sobre a
Língua de Sinais. 9 9
De acordo com Brito (1993) no bilingüismo a língua de sinais é considerada
uma importante via para o desenvolvimento do surdo, em todas as esferas de
conhecimento, e, como tal, “propicia não apenas a comunicação surdo – surdo,
além de desempenhar a importante função de suporte do pensamento e de
estimulador do desenvolvimento cognitivo e social”.
Para os bilinguistas os surdos formam uma comunidade, com cultura e língua
próprias, tendo assim, uma forma peculiar de pensar e agir que devem ser
respeitadas.
Existem duas vertentes dentro da filosofia Bilíngüe. Uma defende que a
criança com surdez deve adquirir a língua de sinais e a modalidade oral da língua,
o mais precocemente possível, separadamente. Posteriormente, a criança deverá
ser alfabetizada na língua oficial de seu país. Outra vertente acredita que se deve
oferecer num primeiro momento apenas a língua de sinais e, num segundo
momento, só a modalidade escrita da língua. A língua oral neste caso fica
descartada.
Segundo Quadros (1997), o bilinguismo é uma proposta de ensino usada por
escolas que se propõem a tornar acessível à criança duas línguas no contexto
escolar. Os estudos têm apontado para essa proposta como sendo a mais
adequada para o ensino das crianças surdas, tendo em vista que considera a
língua de sinais como língua natural e parte desse pressuposto para o ensino da
língua escrita.
A preocupação do bilinguismo é respeitar a autonomia das línguas de sinais
organizando-se um plano educacional que respeite a experiência psicossocial e
linguística da criança com surdez.
Quando o professor ouvinte conhece e usa a Língua de Sinais, tem
condições de comunicar-se de maneira satisfatória com seu aluno surdo. A
introdução da Língua de Sinais no currículo de escolas para surdos é um indício
de respeito a sua diferença. É o que caracteriza uma escola inclusiva para esse
alunado.
O aluno surdo para se desenvolver necessita então de professores altamente
participativos e motivados para aprender e tornar fluente a linguagem. Só assim, 10 10
ou seja, respeitando e considerando às suas necessidades educacionais, é que
será possível proporcionar o pleno desenvolvimento emocional e cognitivo e a

efetiva inclusão e participação do aluno surdo no meio social.


Referência Bibliográfica

DAMÁZIO, M. F. M.; ALVES, C. B. Atendimento Educacional Especializado do aluno com surdez. Capítulo 2. São Paulo: Moderna, 2010.