Oralismo
Para Goldfield (1997) o Oralismo ou filosofia oralista
visa a
integração da criança com surdez na comunidade de
ouvintes, dando-lhe
condições de desenvolver a língua oral (no caso do
Brasil, o português). Para
alguns defensores desta filosofia, a linguagem
restringe-se à língua oral sendo por
isso mesmo esta, a única forma de comunicação dos surdos.
Acreditam assim que
para a criança surda se comunicar é necessário que ela
saiba oralizar.
Segundo Goldfield, o Oralismo concebe a surdez como uma
deficiência que deve
ser minimizada por meio da estimulação auditiva que
possibilitaria a aprendizagem
da língua portuguesa e levaria a criança surda a
integrar-se na comunidade
ouvinte, desenvolvendo sua personalidade como a de alguém
que ouve. Isto
significa que o objetivo do Oralismo é fazer a
reabilitação da criança surda em
direção à normalidade.
A educação oral requer um esforço total por parte da
criança, da família e da
escola. De acordo com os seus defensores, para se obter
um bom resultado, é
necessário:
- Envolvimento e dedicação das pessoas que convivem com a
criança no
trabalho de reabilitação todas as horas do dia e todos os
dias do ano;
- Início da reabilitação o mais precocemente possível, ou
seja, deve
começar quando a criança nasce ou quando se descobre a
deficiência;
- Não oferecer qualquer meio de comunicação que não seja
a modalidade
oral. O uso da língua de sinais tornará impossível o
desenvolvimento de hábitos
orais corretos;
- A educação oral
começa no lar e, portanto, requer a participação ativa da
família, especialmente da mãe;
- A educação oral requer participação de profissionais
especializados como
fonoaudiólogo e pedagogo especializado para atender
sistematicamente o aluno e
sua família;
- A educação oral requer equipamentos especializados como
o aparelho de
amplificação sonora individual.
Para alcançar seus objetivos, a filosofia oralista utiliza
diversas metodologias de oralização : método ocupédico, método Perdoncini,
método verbotonal, entre outros. Essas metodologias se baseiam em pressupostos
teóricos diferentes e possuem em certos aspectos, práticas diferentes. O que as
tornam comum é o fato de defenderem a língua como a única forma desejável de
comunicação da pessoas surda, rejeitando qualquer forma de gestualização ,
especialmente a Língua de Sinais.
Em resumo Oralismo consiste em fazer com que a criança
receba a linguagem oral, através da leitura orofacial e amplificação sonora,
enquanto se expressa através da fala. Gestos, Língua de Sinais e alfabeto
digital são expressamente proibido.
Comunicação Total
Define-se como uma filosofia
que requer a incorporação de modelos
auditivos, manuais e orais
para assegurar a comunicação eficaz entre as pessoas
com surdez. Tem como
principal preocupação os processos comunicativos entre
surdos e surdos, e entre
surdos e ouvintes.
Esta filosofia se preocupa
também com a aprendizagem da língua oral pela
criança surda, mas acredita
que os aspectos cognitivos, emocionais e sociais não
devem ser deixados de lado
só por causa da aprendizagem da língua oral.
Defende assim a utilização
de qualquer recurso espaço - visual como facilitador da
comunicação.
Segundo Ciccone (1990), os
profissionais que defendem a Comunicação
Total concebem o surdo de
forma diferente dos oralistas: ele não é visto só como
alguém que tem uma patologia
que precisa ser eliminada, mas sim como uma
pessoa, e a surdez como uma
marca que repercute nas relações sociais e no
desenvolvimento afetivo e
cognitivo dessa pessoa.
Diferentemente do Oralismo,
a Comunicação Total acredita que o
aprendizado da língua oral
não assegura o pleno desenvolvimento da criança
surda.
Ciccone (1990) demonstrou
que muitas crianças que foram expostas
sistematicamente à
modalidade oral de uma língua, antes dos três anos de idade,
conseguiram aprender está
língua mas, no desenvolvimento cognitivo, social e
emocional, não foram bem
sucedidas.
Uma diferença marcante entre
a Comunicação Total e as outras abordagens
educacionais constitui-se no
fato de que a Comunicação Total defende a utilização
de qualquer recurso
linguístico, seja a língua de sinais, a linguagem oral ou
códigos manuais, para
propiciar a comunicação com as pessoas com surdez.
A Comunicação Total valoriza
a comunicação e a interação e não apenas a
língua. Seu objetivo maior
não se restringe ao aprendizado de uma língua.
Outro aspecto a ser
salientado é que esta filosofia respeita a família da
criança com surdez. Acredita
que cabe à família o papel de compartilhar valores e
significados, formando,
junto com a criança, através da possibilidade da
comunicação, sua
subjetividade.
Os defensores da filosofia
da Comunicação Total recomendam então o uso
simultâneo de diferentes
códigos como: a Língua de Sinais, a datilologia, o
português sinalizado, etc.
Todos esses códigos manuais são usados obedecendo
à estrutura gramatical da
língua oral, não se respeitando a estrutura própria da
Língua de Sinais.
Nesse sentido a Comunicação
Total acredita que esse bimodalismo pode
atenuar o bloqueio de
comunicação existente entre a criança com surdez e os
ouvintes. Tenta evitar que
as crianças sofram as consequências do isolamento.
Tal abordagem compreende,
então, que a criança seja exposta:
- ao alfabeto digital;
- a língua de sinais;
- a amplificação sonora;
- ao português sinalizado.
A abordagem da Comunicação
Total chegou ao Brasil na década de setenta
e vem sendo adotada em
escolas mais recentemente. Os Estados Unidos é o
maior representante desta
abordagem. Sofreu muitas críticas, uma vez que não
trouxe os benefícios
esperados no âmbito do desempenho acadêmico das
crianças com surdez no que
se refere ao seu processo de escolarização (leitura e
escrita).
Bilinguismo
É uma filosofia que vem ganhando força na última década
principalmente no
âmbito nacional. Na Suécia já existem trabalhos nesta
perspectiva há um bom
tempo. No Uruguai e Venezuela verifica-se a presença
desta abordagem nas
propostas de ensino das instituições públicas. Na
Inglaterra existem estudos
iniciais e, na França, aparece nas propostas das escolas
que trabalham
especificamente na educação dos alunos surdos.
Configura-se, no caso do Brasil, como uma proposta
recente defendida por
linguistas voltados para o estudo da Língua de Sinais.
Ainda não foi feita uma
avaliação crítica pois, de maneira geral, não foi
efetivamente implantada.
Parte do princípio que o surdo deve adquirir como sua
primeira língua, a
língua de sinais com a comunidade surda. Isto facilitaria
o desenvolvimento de
conceitos e sua relação com o mundo. Aponta o uso
autônomo e não simultâneo
da Língua de Sinais que deve ser oferecida à criança
surda o mais precocemente
possível. A língua portuguesa é ensinada como segunda
língua, na modalidade
escrita e, quando possível, na modalidade oral.
Contrapõe-se às propostas da
Comunicação Total uma vez que não privilegia a estrutura
da língua oral sobre a
Língua de Sinais. 9 9
De acordo com Brito (1993) no bilingüismo a língua de
sinais é considerada
uma importante via para o desenvolvimento do surdo, em
todas as esferas de
conhecimento, e, como tal, “propicia não apenas a
comunicação surdo – surdo,
além de desempenhar a importante função de suporte do
pensamento e de
estimulador do desenvolvimento cognitivo e social”.
Para os bilinguistas os surdos formam uma comunidade, com
cultura e língua
próprias, tendo assim, uma forma peculiar de pensar e
agir que devem ser
respeitadas.
Existem duas vertentes dentro da filosofia Bilíngüe. Uma
defende que a
criança com surdez deve adquirir a língua de sinais e a
modalidade oral da língua,
o mais precocemente possível, separadamente.
Posteriormente, a criança deverá
ser alfabetizada na língua oficial de seu país. Outra
vertente acredita que se deve
oferecer num primeiro momento apenas a língua de sinais
e, num segundo
momento, só a modalidade escrita da língua. A língua oral
neste caso fica
descartada.
Segundo Quadros (1997), o bilinguismo é uma proposta de
ensino usada por
escolas que se propõem a tornar acessível à criança duas
línguas no contexto
escolar. Os estudos têm apontado para essa proposta como
sendo a mais
adequada para o ensino das crianças surdas, tendo em
vista que considera a
língua de sinais como língua natural e parte desse
pressuposto para o ensino da
língua escrita.
A preocupação do bilinguismo é respeitar a autonomia das
línguas de sinais
organizando-se um plano educacional que respeite a
experiência psicossocial e
linguística da criança com surdez.
Quando o professor ouvinte conhece e usa a Língua de
Sinais, tem
condições de comunicar-se de maneira satisfatória com seu
aluno surdo. A
introdução da Língua de Sinais no currículo de escolas
para surdos é um indício
de respeito a sua diferença. É o que caracteriza uma
escola inclusiva para esse
alunado.
O aluno surdo para se desenvolver necessita então de
professores altamente
participativos e motivados para aprender e tornar fluente
a linguagem. Só assim, 10 10
ou seja, respeitando e considerando às suas necessidades
educacionais, é que
será possível proporcionar o pleno desenvolvimento
emocional e cognitivo e a
efetiva inclusão e participação do aluno surdo no meio
social.
Referência Bibliográfica
DAMÁZIO, M. F. M.; ALVES, C. B. Atendimento Educacional Especializado do aluno com surdez. Capítulo
2. São Paulo: Moderna, 2010.